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2019-04-09 - O PRIMEIRO AMOR

19. 04. 13
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    “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.2-5)

 

O PRIMEIRO AMOR

O que é o “primeiro amor” a que o Senhor Jesus Se refere nesta mensagem? É um fogo de grande intensidade em nosso íntimo, que coloca Jesus acima de todas as demais coisas! Isto foi bem exemplificado numa parábola de Cristo: (Mateus 13.44)

O Senhor está falando de alguém que, além de transbordar de alegria por ter encontrado o Reino de Deus, ainda se dispõe a abrir mão de tudo o que tem para desfrutar do seu achado. Estas duas características são evidentes na vida de quem teve um encontro real com Jesus.

Esta alegria inicial foi mencionada por Jesus na Parábola do Semeador. O problema é que alguns cristãos permitem que ela desapareça diante de algumas provações: (Mateus 13.20,21)

A PERDA DO PRIMEIRO AMOR

“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança” (Ap 2.2a).

A palavra grega traduzida como “labor” é “kopos”, que, de acordo com a Concordância de Strong, significa: “intenso trabalho unido a aborrecimento e fadiga”. Este tipo de labor seguido de perseverança, por parte dos efésios, não nos permite concluir que eles tenham demonstrado alguma queda de produtividade no serviço ao Senhor.

“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.4,5)

Portanto, a perda do primeiro amor é uma queda, é chamada de pecado, e necessita arrependimento. Há muitos crentes que continuam se dedicando ao trabalho do Senhor, mas perderam a paixão. Fazem o que fazem por hábito, por rotina, por medo, pelo galardão, por quaisquer outros motivos, os quais, acompanhados daquele primeiro amor intenso, fariam sentido, mas sozinhos não!

A queixa que o Senhor faz é o fato de que esses crentes haviam abandonado o primeiro amor. O Senhor Jesus tampouco está exortando esta igreja por não O amarem mais! Não se tratava de uma ausência completa de amor, pois ainda havia amor! No entanto, o amor deles havia perdido a sua intensidade e não era mais o amor que Ele esperava encontrar neles!

 

 POR QUE PERDEMOS O PRIMEIRO AMOR?

O primeiro amor é como um fogo. Se colocamos lenha, ele fica mais inflamado. Contudo, se jogamos água, ele se apaga! Falhamos por não alimentarmos o fogo e por permitirmos que outras coisas o apaguem!

Muitas coisas contribuem para que o nosso amor pelo Senhor perca a sua intensidade. No entanto, há quatro coisas, especificamente, que eu gostaria de enfatizar aqui. Se quisermos nos prevenir e evitar esta perda, ou se quisermos uma restauração, depois que perdemos este amor, precisaremos entender estes aspectos e a maneira como eles nos afetam:

  1. O convívio com o pecado

“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.” (Mateus 24.12)

Ao falar do “convívio com o pecado”, ao invés do pecado em si, estou pretendendo estabelecer uma diferença importantíssima. É óbvio que quem vive no pecado está distante de Deus. A ausência do primeiro amor é chamada de “pecado”, mas este pecado não é necessariamente ocasionado por um outro pecado na vida da pessoa que sofreu esta perda. Muitas vezes esta frieza é gerada pelo “convívio com o pecado dos outros”! Creio que, em Mateus 24.12, Jesus está Se referindo aos pecados da sociedade em que vivemos. Devido à multiplicação do pecado à nossa volta (e não necessariamente em nossas vidas), passamos a conviver com algumas coisas que, ainda que não as pratiquemos, passamos a tolerar!

Precisamos ter o cuidado de não nos acostumarmos com o pecado à nossa volta. Muitas vezes o enredo dos filmes que nos proporcionam entretenimento faz com que nos acostumemos com alguns valores contrários ao que pregamos. Acabamos aceitando com naturalidade a violência, a imoralidade, e muitos outros valores mundanos. Ainda que não cedendo a esses pecados, se não mantivermos um coração que aborreça o mal, ficaremos acostumados com esses valores errados a ponto de permitirmos que o nosso amor se esfrie! Precisamos agir como Ló, que se afligia com as iniquidades das pessoas à sua volta:  (2 Pedro 2.6-9)

  1. A falta de profundidade:

Há muitas pessoas que vivem superficialmente o seu relacionamento com Cristo. Na Parábola do Semeador, Jesus falou sobre a semente que caiu em solo pedregoso. O resultado é uma planta que brota depressa, mas não desenvolve a profundidade, porque a sua raiz não consegue penetrar profundamente no solo que não tem muita terra, tornando-se assim superficial. O risco que esta planta corre, pelo fato de que ela se desenvolveu na superfície, é que, saindo o sol (figura do calor das provações), ela pode morrer rapidamente: (Lucas 8.13)

O segredo de não nos afastarmos do Senhor nem perdermos a alegria inicial é o desenvolvimento da profundidade em nossa vida espiritual. Muitos cristãos vivem somente dos cultos semanais. Não investem tempo num relacionamento diário, não oram, não se enchem da Palavra, não procuram mortificar a sua carne para viverem no Espírito, não se envolvem no trabalho do Pai. São cristãos sem profundidade, que vivem meramente na superfície!

A questão da profundidade nas coisas espirituais é aplicada não somente em nossa vida com Deus, mas também nos que servem a Satanás. Na Carta à Igreja de Tiatira, no Apocalipse, o Senhor Jesus elogiou os que não conheceram as profundezas de Satanás: (Apocalipse 2.24,25)

O mesmo princípio da profundidade que se aplica à vida espiritual de quem se encontra no Reino de Deus também se aplica a quem está no Reino das Trevas. Se quem vive no engano do Reino das Trevas chega a desenvolver uma profundidade nesta caminhada que leva à perdição, então nós, que conhecemos a verdade, não podemos nos relacionar com esta verdade de um modo meramente superficial. Se desenvolvermos raízes profundas em Deus, não fracassaremos na fé!

  1. A falta de tratamento

Na Parábola do Semeador um dos exemplos de como o potencial de frutificação da Palavra de Deus pode vir a ser abortado na vida de alguém é a falta de raiz, de profundidade. Mas há outro exemplo que o Senhor Jesus nos deu nesta parábola – da semente que caiu entre espinhos: (Lucas 8.7)

Os espinhos não pareciam ser tão comprometedores porque eram pequenos. E, justamente por não parecem perigosos, não foram arrancados. Depois, eles cresceram e sufocaram a semente da Palavra, abortando assim o propósito divino de frutificação. (Lucas 8.14)

As áreas que não são tratadas em nossas vidas talvez não pareçam tão nocivas hoje, mas serão justamente as áreas que poderão nos sufocar na fé e no amor ao Senhor posteriormente.

A queda espiritual nunca é um ato instantâneo ou imediato. É um processo que envolve repetidas negligências da nossa parte, e são estas mesmas “inocentes” negligências que nos vencerão depois. Por isso, devemos dar mais atenção às áreas que precisam ser trabalhadas em nossas vidas!

  1. As distrações

Diferentemente do cristão que está travando uma luta contra o pecado, o cristão que costuma ser enredado pelas distrações é, via de regra, alguém que não tem cedido ao pecado, mas perde o alvo ao distrair-se com coisas que talvez sejam até mesmo lícitas, mas roubam-lhe o foco.

A Bíblia diz que, quando Moisés foi ao Egito com uma mensagem de libertação, o Faraó aumentou o trabalho do povo para que eles se esquecessem da idéia de adoração a Deus: (Êxodo 5.5-9)

Na Parábola da Grande Ceia, Jesus revelou que muitos perdem a consciência do convite de Deus por causa das distrações causadas por coisas lícitas e que podem ser consideradas até mesmo como bênçãos divinas, como, por exemplo, a aquisição de propriedades, a melhoria da capacidade de produção, ou até mesmo a constituição de uma família (Lc 14.15-24)!

 

 

O CAMINHO DE VOLTA

O caminho de volta é o caminho da restauração. Foi o próprio Senhor Jesus que propôs o caminho da restauração:

    “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.5)

Cristo mencionou três passos práticos que devemos dar a fim de voltarmos ao primeiro amor:

O primeiro passo é um ato de recordação, de lembrança do tempo anterior à perda do primeiro amor. Não há melhor maneira de retomá-lo do que esta: relembrarmos os primeiros momentos da nossa fé, da nossa experiência com Deus! O profeta Jeremias declarou:

    “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Lamentações de Jeremias 3.21)

Algumas lembranças têm o poder de produzirem em nós um caminho de restauração. Muitas vezes não nos damos conta do que temos perdido. Uma boa forma de dimensionarmos as nossas perdas é contrastarmos o que estamos vivendo hoje com o que já experimentamos anteriormente em Deus.

 “Arrepende-te!” Não basta termos saudades de como as coisas eram anteriormente! É preciso que sintamos dor por termos perdido o nosso primeiro amor! Precisamos lamentar, chorar, e clamar pelo perdão de Deus! É imperativo reconhecer que a perda do primeiro amor é mais do que um desânimo, ou qualquer outra crise emocional! É um pecado de falta de amor, de desinteresse para com Deus!

À semelhança dos profetas do Antigo Testamento, Tiago definiu como devemos nos posicionar em arrependimento diante do Senhor. Deve haver choro, lamento e humilhação: (Tiago 4.8-10)

O fato de nos humilharmos perante o Senhor é o caminho para a exaltação (restauração) diante d’Ele. Se reconhecermos que abandonamos o nosso primeiro amor, teremos que separar rapidamente um tempo para orarmos e chorarmos em arrependimento diante do Senhor e para buscarmos uma renovação.

 “Volta à prática das primeiras obras!” Portanto, não basta apenas revivermos as lembranças e chorarmos! Temos que voltar a fazer o que abandonamos! Essas primeiras obras a que Cristo Se refere não são o primeiro amor em si, mas estão atreladas a ele – são uma forma de expressarmos e alimentarmos o nosso primeiro amor! Elas têm a ver com a forma pela qual O buscávamos e também a maneira como O servíamos. Jesus não protestou porque os efésios não O amavam mais, e sim porque já não O amavam mais como anteriormente! Precisamos mais do que o reconhecimento da nossa perda! Precisamos voltar a agir como no início da nossa caminhada com Cristo!

É tempo de resgatarmos o nosso amor ao Senhor e dar-Lhe nada menos que um amor total! Que possamos sempre nos apossar da graça do Senhor, para vivermos intensamente a nossa obediência ao Maior Mandamento!